domingo, 4 de dezembro de 2016

A favor de mim.




Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito.
E também me dói quando percebo que feri.
Mas tantos defeitos tenho.
Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. 
Embora amor dentro de mim eu tenha. 
Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas.
Quando o amor é grande demais torna-se inútil: 
já não é mais aplicável, 
e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto.
Fico perplexa como uma criança ao notar que 
mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida.
Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.

Clarice Lispector

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